O que é Tabagismo?
Por Kâmilah Hauache
O tabagismo é uma das dependências de substâncias mais comuns do mundo. Normalmente é associado a comorbidades pulmonares, como câncer, DPOC, enfisema, bronquite crônica, entre outros.
Apesar da relutância de alguns profissionais em reconhecerem o tabagismo como distúrbio psiquiátrico, principalmente por poder ser interrompido voluntariamente, essa oposição vem perdendo força atualmente diante do reconhecimento de que outros problemas psiquiátricos estão relacionados ao tabagismo.
Desde a década de 1980, seguindo a tendência mundial, o Brasil trata o cigarro como um problema de saúde pública, e embora a sua comercialização seja legalizada, o seu consumo é extremamente desestimulado pelo governo e órgãos de saúde.
Ainda assim, o cigarro continua sendo uma das causas que mais mata no mundo, sendo responsável por mais de 8 milhões de mortes por ano, dessas são 7 milhões decorrentes do uso direto do tabaco e 1,2 milhão resultado da exposição passiva ao fumo.
Considerando o diagnóstico de transtorno por uso de tabaco, os números também são expressivos e assustadores: aproximadamente 20% da população desenvolve dependência em algum momento; 85% dos fumantes diários atuais são dependentes de tabaco, e; pelo menos, 50% dos fumantes que tentam abandonar o hábito sofrem com sintomas da abstinência. Isso faz do tabagismo um dos transtornos psiquiátricos de maior prevalência e desperta a atenção para necessidade de diagnóstico e tratamento.
CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS E EFEITOS ADVERSOS
Mas afinal, o que mantém o tabagismo como um hábito ainda presente em parcela significativa da população mundial mesmo após décadas de campanhas publicitárias de conscientização? Analisando aspectos comportamentais, estudos indicam que a nicotina possui efeitos estimulantes: produz melhora na atenção, no aprendizado e na capacidade de reação. Além disso, os usuários relatam elevação do humor e redução da tensão e de sentimentos depressivos.
Todavia, não devemos nos deixar enganar, os efeitos adversos do tabaco superam em muito eventuais benefícios. Além do desenvolvimento e piora de doenças cardiovasculares e pulmonares, causar impotência sexual, infertilidade ou dificuldade para engravidar, a nicotina é altamente tóxica, podendo ser inclusive fatal quando em altas doses, causando paralisia respiratória. Em baixas doses, os sintomas de toxicidade incluem náusea, vômito, salivação, palidez, fraqueza, dor abdominal, diarreia, tontura, cefaleia, aumento da pressão arterial, taquicardia, tremor e suor frio. Também causa incapacidade de concentração, confusão e perturbações sensoriais, diminuição da quantidade de sono REM do usuário, prejudicando a memória e a recuperação de energia para o dia seguinte. Já durante a gestação, o tabagismo está associado ao aumento da incidência de recém nascidos de baixo peso e com hipertensão pulmonar persistente, além do aumento de abortos espontâneos e parto prematuro.
Diante de tantos efeitos adversos, é evidente que a cessação do tabagismo apresenta grandes vantagens à saúde. Segundo a OPAS (Organização Pan-Americana da Saúde) existem tanto benefícios imediatos, quanto tardios relacionados à interrupção do tabagismo. Dentro de vinte minutos, o ritmo cardíaco e a pressão arterial baixam. De duas a quatorze semanas, a circulação sanguínea melhora e a função pulmonar aumenta. Entre um a nove meses, a tosse e a falta de ar diminuem. Em um ano, o risco de ter um infarto se reduz pela metade. Em cinco a dez anos, o risco de ter um acidente vascular cerebral (AVC) é o mesmo de um não fumante. Em dez anos, o risco de câncer de pulmão cai para cerca de metade e o risco de câncer de boca, garganta, esôfago, bexiga, colo do útero e pâncreas também diminui. Em quinze anos, o risco de infarto é o mesmo de um não fumante.
DIAGNÓSTICO
O transtorno por uso de tabaco é caracterizado, segundo o DSM-V (Manual de Diagnóstico e Estatística de Transtornos Mentais), por “fissura, uso persistente e recorrente, tolerância e abstinência se o uso for interrompido”. A nicotina, principal substância química do cigarro, atinge rapidamente o mesmo sistema afetado pelo uso de substâncias como cocaína e anfetamina (sistema dopaminérgico da área tegumentar ventral). O processo de dependência pode ser acelerado por circunstâncias sociais, como a influência causada por pais, irmãos e amigos fumantes, ou até mesmo pela exposição a anúncios publicitários e a modelos de vida presentes em programes de entretenimento.
Os sintomas de abstinência de nicotina podem aparecer de forma rápida, em até 2 horas após o consumo do último cigarro. Já nas 24 às 48h seguintes, a abstinência atinge seu auge, momento em que a pessoa pode ser acometida por intensa fissura por tabaco, tensão, irritabilidade, dificuldade de concentração, sonolência e insônia paradoxal, redução da frequência cardíaca e da pressão arterial, aumento do apetite e ganho de peso, redução do desempenho motor e aumento da tensão muscular. Alguns desses sintomas podem durar semanas ou mesmo meses após interromper o hábito.
QUERO PARAR DE FUMAR, E AGORA?
O primeiro passo é decidir parar de fumar e se você já está pronto para isso, marque uma data para o início da interrupção. Esta pode ser abrupta, interrompendo totalmente qualquer uso do cigarro ou gradual, diminuindo aos poucos o número de cigarros diários.
Existem tratamentos que podem auxiliar neste abandono do cigarro, como psicoterapia tanto individual como de grupo, hipnose, uso de adesivo ou goma de mascar de nicotina por algumas semanas com retirada gradual e alguns antidepressivos, principalmente a bupropiona e a nortriptilina, que serão prescritos conforme a necessidade por um médico.
A recaída pode acontecer, mas não interprete como fracasso. Tente identificar as situações que levaram a isso, como por exemplo: conflitos entre familiares e amigos, estresse do dia-a-dia, emoções negativas como ansiedade, raiva, frustração. Faça uma retrospectiva dos momentos que antecederam e contribuíram para a recaída e pense o que poderia ter feito de diferente naquela hora e de que forma poderia agir em outra situação semelhante evitando um novo lapso.
REFERÊNCIAS
- CORDIOLI, A. V., & GREVET, E. H. Psicoterapias: Abordagens Atuais. – 4ª edição – Porto Alegre : Artmed, 2019
- DALGALARRONDO, P. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. Porto Alegre, 2019. Editora Artes Médicas do Sul.
- KAPLAN, H.; SADOCK, B.; GREBB, J. Compêndio de Psiquiatria: ciência, comportamento e psiquiatria clínica. 11. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 2017.
- ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE (OPAS). Folha informativa – Parar de fumar e seus benefícios à saúde; 2020. Disponível em: https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=5641:folha-informativa-tabaco&Itemid=1097. Acesso em: 30 de junho de 2020.
- PROGRAMA NACIONAL DE CONTROLE DO TABAGISMO. Instituto Nacional do Câncer (INCA), 2020. Disponível em: https://www.inca.gov.br/programa-nacional-de-controle-do-tabagismo. Acesso em: 30 de junho de 2020.
- Instituto Nacional do Câncer (INCA), 2020. Disponível em: https://www.inca.gov.br/tabagismo. Acesso em: 30 de junho de 2020.
- Secretaria de Saúde. Fatores de Risco: tabagismo. 2020. Disponível em: https://saude.to.gov.br/vigilancia-em-saude/doencas-transmissiveis-e-nao-transmissiveis-/dant/fatores-de-risco/tabagismo. Acesso em: 30 de junho 2020.