O que é depressão?
Por Kâmilah Hauache
A depressão é caracterizada por tristeza e desânimo intensos e duradouros. Engloba diversas doenças classificadas como transtornos depressivos e pode ser desencadeada por diversos fatores. Muitas vezes surge logo após a perda significativa de uma pessoa próxima, animais de estimação, de emprego, moradia ou status socioeconômico, porém é importante diferenciar a depressão da tristeza e luto normais. O luto pode induzir grande sofrimento, mas tende a diminuir com o passar das semanas e meses, sendo que nesse caso a tristeza ocorre em “ondas”, relacionada às lembranças da pessoa que se foi.
O transtorno depressivo maior é a forma mais comum de depressão, caracterizado por um único episódio depressivo ou episódios recorrentes ao longo da vida. É uma doença de alta prevalência, estando presente em 15,5% dos brasileiros e acomete cerca de 322 milhões de pessoas no mundo inteiro, correspondendo a 4,4% da população mundial. Causa impacto em todas as esferas da vida, interferindo na saúde física e mental, qualidade de vida e desempenho profissional do indivíduo.
Também está associada a um alto risco de suicídio. Estudos indicam que 60% das tentativas de suicídio são realizadas por pessoas com depressão maior. Além disso, 15-40% das pessoas com depressão já tentaram suicídio pelo menos uma vez.
Causas
Existem diversos fatores biológicos, genéticos e psicossociais envolvidos no desenvolvimento de um episódio depressivo.
Alguns dos fatores de risco que podemos destacar são: histórico familiar, outros transtornos psiquiátricos, doenças crônicas tais como as cardiovasculares, endócrinas, neurológicas e neoplásicas, estresse crônico, disfunções hormonais, uso de substancias ou medicações e traumas psicológicos
Sintomas
Para o diagnóstico de transtorno depressivo maior são necessárias pelo menos 2 semanas de sintomatologia. Pelo menos 5 sintomas devem estar presentes na maior parte dos dias e pelo menos um dos sintomas é caracterizado como humor deprimido ou perda de interesse ou prazer.
Os sintomas descritos são apresentados a seguir:
- Humor deprimido, sentimento de vazio, tristeza, falta de esperança, choro fácil relatados pela pessoa ou pela observação de pessoas próximas a ele;
- Perda de interesse ou prazer nas atividades que gostava de realizar antes;
- Perda ou ganho de peso não intencional ou mesmo aumento ou diminuição de apetite;
- Insônia, dificuldade para dormir, sono interrompido no meio da noite, diminuição do tempo do sono ou sono demais;
- Perda de energia na maioria dos dias ou cansaço;
- Sentimento de inutilidade, culpa excessiva, aversão a si mesmo, baixa autoestima;
- Capacidade diminuída para pensar, se concentrar ou indecisão constante;
- Pensamentos recorrentes de morte, medo de morrer, ideação suicida recorrente sem um plano específico, tentativa de suicídio ou plano específico para cometer suicídio.
DIAGNÓSTICO
Há diversos diagnósticos que estão incluídos nos transtornos depressivos, como o transtorno disruptivo da desregulação do humor, transtorno depressivo maior, transtorno depressivo persistente (distimia), transtorno disfórico pré-menstrual (TPM), transtorno depressivo induzido por substância/medicamento, transtorno depressivo devido a outra condição médica, outro transtorno depressivo especificado e transtorno depressivo não especificado. Estes se diferem pelas suas causas, duração e momento do diagnóstico, porém têm como característica comum a presença do humor triste, vazio ou irritável, além de sintomas que afetam o funcionamento normal da pessoa, gerando sofrimento significativo.
O diagnóstico segue os critérios do DSM-V (Manual de Diagnóstico e Estatística de Transtornos Mentais) e deve ser diferenciado de outras condições médicas, podendo ser necessário inclusive a realização de alguns exames laboratoriais para exclusão de diagnósticos com sintomas semelhantes, como hipotireoidismo, hipertireoidismo, disfunção suprarrenal, ISTs, pneumonia, entre outras doenças.
É possível, ainda, que o transtorno depressivo seja induzido pelo uso de substâncias, a exemplo do álcool, das drogas e de determinadas medicações (anti-hipertensivos, sedativos, hipnóticos, antipsicóticos, antiepilépticos, antiparkinsonianos, analgésicos, antibacterianos e antineoplásicos).
Condições neurológicas, como doença de Parkinson, doenças demenciais, epilepsia, doenças cerebrovasculares e tumores também devem ser considerados.
Portanto, uma avaliação clínica minuciosa se mostra imprescindível. Deve-se entender o contexto de vida do paciente, realizar um exame físico e neurológico completo e exames laboratoriais de sangue e urina para o diagnóstico diferencial.
TRATAMENTO
O primeiro episódio depressivo, em metade dos casos, ocorre antes dos 40 anos. Quando o início é mais tardio geralmente está associado à ausência de histórico familiar de casos semelhantes e decorre do abuso de substâncias como o álcool.
Um episódio depressivo não tratado tem duração de 6-13 meses. Desse modo, é importante a identificação precoce dos sintomas, tendo em vista que a maioria dos episódios tratados dura apenas cerca de três meses. Deve-se respeitar também o tempo de tratamento com as medicações, pois a retirada precoce e arbitrária faz com que os sintomas retornem.
O objetivo do tratamento é a remissão completa dos sintomas, geralmente os antidepressivos demoram de 3 a 4 semanas para apresentar efeito terapêutico significativo. A dose pode ser aumentada progressivamente até o seu máximo antes de se pensar em trocar de medicação, tudo conforme a orientação do seu médico. O tratamento deve ser mantido por pelo menos 6 meses a partir da melhora clínica, mas esse tempo pode variar a depender do tempo de duração dos sintomas do último episódio depressivo. Em algumas situações, pode ser necessário manter o tratamento pelo resto da vida.
O tratamento deve ser feito tanto com fármacos antidepressivos, como com a psicoterapia cognitivo-comportamental.
ALGUMAS RECOMENDAÇÕES
Se você se identificou com alguns dos sintomas descritos acima ou conhece alguém que esteja passando por isso, não tenha vergonha de procurar ajuda. O tratamento e acompanhamento visam a melhora completa dos sintomas e isso realmente é possível.
Tudo pode estar parecendo mais difícil no momento, mas existem algumas medidas que você pode iniciar em casa para levar um estilo de vida saudável e prevenir ou reduzir alguns sintomas:
- Tenha uma dieta equilibrada e saudável, evite excesso de cafeína, produtos industrializados, gorduras e carboidratos. Se for possível, procure auxílio de um nutricionista.
- Pratique atividades físicas regularmente.
- Reserve momentos da rotina para o lazer.
- Evite consumo de álcool e drogas ilícitas, principalmente se estiver em uso das medicações.
- Estabeleça horários para o sono. É indispensável definir horários de ir para cama e para acordar, tente manter entre 6-8h de sono.
- Não interrompa o tratamento sem recomendação médica.
- Em alguns momentos podem surgir pensamentos de morte, desejo de suicídio ou planejamento a respeito, procure ajuda de um psiquiatra sempre que isso acontecer.
REFERÊNCIAS
- KAPLAN, H.; SADOCK, B.; GREBB, J. Compêndio de Psiquiatria: ciência, comportamento e psiquiatria clínica. 11. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 2017
- CORDIOLI, A. V., & GREVET, E. H. Psicoterapias: Abordagens Atuais. – 4ª edição – Porto Alegre : Artmed, 2019
- DALGALARRONDO, P. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. Porto Alegre, 2019. Editora Artes Médicas do Sul.
O artigo tem objetivo informativo e não substitui a consulta médica.
Na presença de algum dos sintomas descritos, busque ajuda profissional.